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Glória e Ruína – Tracy Banghart | Resenha

Na continuação de Graça e Fúria, Serina e Nomi Tessaro vão dar início a uma revolução que vai mudar a vida de todas as mulheres de seu país. As irmãs Serina e Nomi Tessaro nunca imaginaram que acabariam em lugares tão distintos: Serina em uma ilha-prisão, Monte Ruína; Nomi no palácio de Bellaqua, como uma graça, à disposição do príncipe herdeiro do reino. Depois de sofrer uma grande traição, Nomi também é mandada para a ilha e, ao chegar lá, para sua surpresa, encontra Serina à frente de uma rebelião das prisioneiras contra os guardas. 
Agora as irmãs têm um objetivo em comum: mudar o funcionamento de toda a sociedade. Além disso, elas sabem que Renzo, gêmeo de Nomi, está em perigo. Relutantes, elas se separam mais uma vez, e Nomi retorna à capital, enquanto Serina permanece em Monte Ruína para garantir que todas as mulheres encontrem um lugar seguro para viver. Só que nada sai como o planejado ― e as duas vão ter de enfrentar os seus maiores medos para mudar o país de uma vez por todas.

Distopia, fantasia, ficção | 312 páginas | Editora Seguinte

Assim que eu descobri que Glória e Ruína seria o novo lançamento da editora Seguinte, eu fui correndo pro NetGalley ver se a obra estava disponível para leitura, e foi assim que eu consegui por as mãos nessa belezura. Desde que Graça e Fúria saiu, eu estava louca para ler a obra e fiquei mais apaixonada ainda quando pude fazer isso. Aquele final me deixou ávida para saber como a autora iria desenvolver a reta final da história das irmãs Nomi e Serina e ela fez isso de maneira fenomenal.
Pra você que não sabe bem o que aconteceu, vou dar uma breve resumida livre de spoilers. Em Viridia, país onde a supremacia é dos homens, existe um superior que a cada ano escolhe três Graças, mulheres bonitas e de compostura que devem-lhe servir. Serina fora criada para se tornar uma delas, e Nomi, sua irmã mais nova, fora criada para ser sua aia quando esta conseguisse se tornar graça. Porém, após uma confusão envolvendo um livro, Nomi é escolhida no lugar da irmã e Serina acaba sendo presa e posteriormente levada a Monte Ruína, uma ilha isolada lar de outras mulheres rebeldes.
Nos últimos capítulos de Graça e Fúria, Nomi acaba indo parar em um barco que a leva para Monte Ruína justamente com Maris, outra graça, e Malachi, o herdeiro de Viridia que está gravemente ferido. E é a partir daí que começa Glória e Ruína. Eu não quero entrar em detalhes sobre o que acontece na história porque perderia totalmente a graça, mas é basicamente Nomi e Serina tentando resolver as tretas que deixaram no outro livro. Nesta resenha vou me focar mais no desenvolvimento das personagens do que nos acontecimentos que permeiam a história, e de toda forma, tudo o que eu disser aqui com certeza não conseguirá expressar todas as sensações que tive ao terminar essa obra. 
Serina é de fato a personagem que rouba a atenção. Uma mulher que aprendeu desde cedo a como se portar como uma graça, não levantar a voz, ser a imagem da beleza e da submissão, e ao longo da história se transforma completamente. Ela encontra a garra que nunca imaginou ter, uma fúria latente que a deixa mais revoltada com o sistema em que vive e com as diferenças entre homens e mulheres que é obrigada a perceber. Serina se tornou uma mulher tão forte, tão ousada que é quase como se aquela outra mulher nunca tivesse existido. 
Nomi que desde o princípio se mostrou revoltada com a situação em que vivia, com o fato de não poder ter escolha, aprende que não é só disso que as coisas são feitas. Mesmo com a brutalidade da vida, ainda existe a gentileza, a educação. Em nenhum momento desde que fora escolhida como Graça a sua vida foi suavizada, pelo contrário, é muito mais difícil confiar nas pessoas que você não conhece e o preço que se paga por um erro desses é muito grande, algo que Nomi vai descobrindo aos poucos.
O que eu mais gostei nesta história é como todas as mulheres são protagonistas do livro. Apesar de termos homens na trama, Malachi e Val, não são eles que salvam as mocinhas, não são eles os heróis. Pelo contrário, a autora aqui optou por trazer um palco onde cada personagem feminina consegue se sobressair. Um lugar como Monte Ruína que tinha o objetivo de subjugar e dividir as mulheres, na verdade fez com que elas se apoiassem uma as outras e lutassem juntas. A sororidade entre elas vai sendo construída desde o primeiro livro, onde elas precisam confiar uma nas outras se quiserem mudar a situação na qual vivem. E é tão lindo ver tantas mulheres fortes, destemidas, algumas até com medo, que se preocupam com o futuro de todas, não somente daquelas que estão ali, mas daquelas que vivem em Viridia, em uma prisão que nem sabem que estão. O fato delas não poderem ler, manusear dinheiro, tomar decisões, votar… coisas que nós hoje em dia temos acesso mas que séculos atrás era impensável para uma mulher fazer. É por isso que cada personagem citada (Jacana, Petrel, Oráculo, Espelho, Penhasco, Âmbar, Anika) é tão imprescindível para a construção da obra, porque cada uma ali tem seu papel, sua importância e sua história sendo contada. Não é só a questão de serem mulheres “rebeldes” porque sabem ler, ou porque não queriam se casar, mas até a homossexualidade aqui é tratada como algo que precisa ser visto de outra forma. A autora soube trazer esses elementos de uma forma maravilhosa, crua e simples, e em nenhum momento ela usa um personagem descartável. Todos estão ali com um propósito que vai ser atendido ao longo da trama.
E tem romance sim! Não é porque a obra fala sobre luta que não pode ter momentos suaves ao longo da narrativa, mesmo que poucos. Os romances são desenvolvidos à parte, mesmo que não sejam o foco da trama, conseguem trazer esperança aos personagens e ao leitor também. Não é algo que atrapalha em nada o desenvolvimento da trama mas também não é algo essencial para a história. Se a autora optasse por não desenvolver os casais, provavelmente a obra não perderia em nada. 
E por fim, Glória e Ruína é um livro que me causou muita angústia. São tantas situações absurdas que Serina, Nomi e as mulheres de Monte Ruína precisam passar que deixam o nosso coração pesado, de ver tanta injustiça propagada como algo “certo”. Viridia é a personificação de uma sociedade apodrecida, machista e misógina. Um lugar que representa tudo aquilo que vivemos hoje em dia, infelizmente. Trazer histórias que contam isso de outra forma, mesmo que tão perto da realidade, é extremamente importante, principalmente no nosso estado crítico político atual. Se eu tinha amado Graça e Fúria, eu fiquei completamente ensandecida por Glória e Ruína e eu indico MUITO a leitura a todos!
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14 comments on “Glória e Ruína – Tracy Banghart | Resenha

  1. Geeeente que distopia é essa?! Amei a premissa!
    É ótimo quando a gente vê o amadurecimento dos protagonistas durante o livro, ainda mais quando se trata de mulheres que descobrem seu próprio poder e tem mais consciência sobre as coisas a seu redor.
    O mais legal é que o livro é uma distopia, mas pode facilmente ser contraposto para os nossos dias.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

  2. Oiii Mika

    Achei que não fosse chegar o dia em que te veria dar 5 estrelas pra uma distopia! Ebaaaa, me representou nessa resenha.
    Pensa que eu nem sabia que a Seguinte as disponibiliza algumas obras através do NetGalley? Tenho conta lá mas é dificil eu fuçar ultimamente, que maravilhoso saber que já tem editora brasileira por lá, todas deveriam participar, seria lindo pra nós blogueiros.
    To louca pra ler essa continuação. Graça e Furia foi um livro que amei muito no primeiro semestre e apesar da Nomi não ter se tornado minha querida heroína ali (achei ela tão inocente diante do óbvio), parece que nesse livro ambas se sobresaem e isso é ótimo.
    Quero ler com certeza.

    Beijos, Alice

    http://www.derepentenoultimolivro.com

  3. Oi, Alice
    Acredite, Crõnicas Lunares foi a única que eu gostei haha mas a escrita da Tracy me deixou completamente apaixonada, eu fiquei louca por essa história.
    Só tem a Companhia das Letras lá no netgalley, sempre que eu quero algum lançamento vou lá ver se está disponível, e sempre encontro histórias legais!

  4. Oi, Mi

    Eu quase solicitei lá na NetGalley, mas ainda preciso dar o feedback de alguns livros e preferi não me enrolar, ainda mais porque nem li o primeiro livro ainda, mas pretendo ler esse mês.
    A história, apesar de não fazer muito meu tipo, chama minha atenção por conta do destaque e relevância que as mulheres têm.
    Espero gostar!

    Beijos
    – Tami
    https://www.meuepilogo.com

  5. Olá, Miriã.
    Eu estava bem empolgada com esse livro e o anterior. Mas vi aqui no grupo de parceiros do Grupo Record bastantes blogueiros falando que essa história é meio que cópia de A Rainha Vermelha que por sua vez já é uma mistureba de outros livro e desanimei um pouco. Mas como á tenho o primeiro aqui vou ler hehe.

    Prefácio

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